Finalmente foi concluído o relatório da Pesquisa de Orçamentos Familiares realizada pela Fundação IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no período de 2008 a 2009.
Particularmente fico feliz de ver o resultado de um trabalho no qual tive participação ativa em sua execução entrevistando muitas famílias, sempre contando com muitos colegas APM's (Agentes de Pesquisa e Mapeamento) que trabalharam tanto quanto eu, cientes de relevante importância dessa pesquisa para o Brasil.
Logo que fui chamado para trabalhar no IBGE a Sr.ª Ângela (coordenadora das pesquisas do IBGE em RO) me lotou na Pesquisa de Orçamentos Familiares, uma vez que o IBGE realiza um vasto número de pesquisas entre domiciliares, econômicas, etc. E como POF começara a caminhar, os APM's contratados anteriormente já estavam no treinamento em Ouro Preto d'Oeste/RO, enquanto eu tive que me virar com o manual aqui em Porto Velho. Porém não fiquei sozinho por muito tempo na capital. Poucos dias depois mais três APM's foram admitidos.
Em Rondônia, assim como em todos os estados da Federação, o IBGE tem uma UE - Unidade Estadual (administração), que em Rondônia divide o estado em quatro macro regiões que contam com uma agência do IBGE vinculada a UE-RO na capital, sendo tais agências sediadas nas cidades de Porto Velho, Ji-Paraná, Cacoal e Vilhena. A agência de Porto Velho por exemplo abrange todos os municípios do Norte e Noroeste do Estado.
Com os APM's de Rondônia já distribuídos a pesquisa começou a ser de fato executada junto aos domicílios, lembrando que primeira Listagem (procedimento pelo qual é feita a escolha dos domicílios que participaram da pesquisa) já havia sido feita antes de eu chegar no IBGE.
A pesquisa tinha duração de 09 dias, e todo início de semana os agentes recebiam, em forma de alternada, uma média de 02 domícilios para entrevistarem. Sendo que o número máximo que nós pegávamos por semana era de 04 famílias/domicílios por semana, o que ocorreu principalmente no último ano da pesquisa ou quando as famílias eram de outros municípios.
A coleta da pesquisa era feita como auxílio de um notebook, mas haviam quem fizesse com os questionários de papel, além de uma balança e um estadiômetro para pesar e medir todos os moradores de cada domicílio escolhido para participar da pesquisa.
E foi justamente no andamento da POF que vivemos muitas situações ilárias e outras nem tanto...
Primeiro que no começo o IBGE disponibilizava veículos para os agentes se dirigirem aos domicílios entrevistados, mas depois tivemos lançar mão do serviço de transporte coletivo urbano, surgindo a figura do “Leva Eu Corporativo”. Leva EU é um cartão no qual são carregadas passagens para utilizar os ônibus em Porto Velho. O IBGE adquiriu alguns cartões e os distribuía para os agentes de pesquisa a fim de que pudessem visitar os entrevistados.
Vivemos verdadeiras aventuras. Em Candeias do Jamari/RO, em companhia de Daniele e Carlos, ao terminarmos os trabalhos o carro do IBGE resolveu não pegar de jeito nenhum. O que nos fez empurrar o bendito carro para que ele pegasse na marra (detalhe, era aproximadamente meio dia e debaixo de um sol escaldante), mas nada. Foi então que chamamos um mecânico que fez uma gambiarra provisória, o que nos permitiria chegar em Porto Velho desde que não desligássemos o carro ou não o deixasse morrer.
Os carros do IBGE Rondônia, pelo menos quando estive por lá, eram verdadeiras máquinas mortíferas. Latas velhas que não eram dignas de serem de uma entidade federal. A porta de um deles se abriu sozinha com o veículo em movimento, matando a Léa (agente das pesquisas econômicas) de susto, pois quase que quase caíra do carro.
Muitos municípios sob abrangência da agência de Porto Velho receberam a POF, eu particularmente entrevistei famílias em quatro viagens a Guajará-Mirim, duas a Jaru, uma a Nova Mamoré, e uma outra em Theobroma (exatamente no distrito de Palmares). Nessas viagens pudemos perceber peculiaridades do interior do estado. Em Guajará por exemplo não existem ruas. Na verdade todas as tranqüilas vias urbanas da cidade são tidas como avenidas, mas isso é apenas um detalhe, pois a cidade tem muito mais a oferecer, uma vez que tem belos atrativos culturais e naturais, que eu fiz questão de pelo menos alguns registrar.
Na minha viagem para Theobroma tive que exercitar muuuito a minha paciência, pois as quatros famílias/domicílios que eu entrevistava moravam no distrito de Palmares, longe cerca algumas dezenas de quilômetros da sede do município. Nas datas marcadas acordava cedo para pegar ônibus de linha (aquele que não é de tão boas condições, e onde se transporta junto com pessoas animais e ferramentas). Chegando em Palmares ainda pela manhã visitava os quatro domicílios, e terminava tudo às 12h, porém para eu retornar a sede do município tinha que esperar o ônibus de retorno que só passava ás 16h. Para não ser tão tediante andava pelo distrito, mas o povoado é muito pequeno e tem poucos atrativos. Haja paciência para ter ficado naquela rodoviária improvisada olhando para teto até que a condução chegasse.
Na minha primeira ida a Guajará-Mirim adotei o hábito ir às casas dos meus informantes a pé, e quando terminei a visita a um dos que ficavam mais distantes do centro da cidade, ao avistar a Serra dos Parecis resolvi ir até lá, pois parecia estar muito próximo pra mim, mas tudo não passou de uma ilusão de ótica. Quanto mais andava mais a serra de distanciava, e como já estava muito longe para retornar continuei prosseguindo. Exausto cheguei na porta de entrada do parque, porém para chegar até o alto da serra tive mais uma longa caminhada. Chegando lá fiquei deslumbrado com vista, e ainda tive pique para subir em uma das antenas desativadas da Embratel que tem lá em cima. Tirei altas fotos!
Na última viagem a Guajará decide procurar o conhecido igarapé Palheta nas horas vagas, e nessa procura peguei uma das “avenidas” da cidade e segui até uma região alagadiça que havia visto no mapa. Segui até o término da rua e onde começava uma trilha. Enquanto caminhava no meio do mato vi várias vitórias-régias em um dos lagos. Resolvi tirar fotos, sendo que para uma delas fiquei de costas para o lago, a fim de que as flores aparecessem atrás de mim. Após clicar ouvi um barulho na água, que quando virei estava em movimento. Não vi nada por perto e resolvi sair dali. Chegando num barracão de madeira havia um senhor arrumando uns tijolos, que pareciam ter sido confeccionados naquele local. Comentei com ele se haviam animais ali por perto, e ele disse que era muito comum encontrar jacarés e cobras nos lagos, e disse mais, tempos atrás haviam encontrado um cadáver humano por ali também. Conversei por algum tempo, tirei algumas fotos do local e retornei para hotel.
No retorno das viagens, já na agência em Porto Velho, passávamos os dados obtidos (quando utilizávamos questionário de papel) para o sistema, que ficava nos computados do “L” (uma das salas da UE de Rondônia que tem a forma da letra), a fim de que posteriormente fossem os dados analisados pelos supervisores, e em seguida pela coordenadora, e só então as informações eram enviadas para o banco de dados da matriz do IBGE no Rio de Janeiro.
Uma das situações mais desconcertantes era quando tínhamos que visitar os informantes á noite, uma vez que precisávamos adaptar nossos horários aos dos informantes, de maneira que não os atrapalhasse. E em uma dessas visitas, em Jaru, eu cheguei a ser expulso por uma criança, cuja sua mãe ameaçou dar-lhe umas palmadas depois que eu saísse, pela sua falta de educação. Uma colega compareceu no horário marcado pela informante, mas sem querer acabou atrapalhando a mesma que na ocasião estava recebendo uma outra visita, mas amorosa.
Quando agentes de pesquisa, a fim de garantir maior comodidade aos informantes tínhamos que ajustar nossos horários, bem como sacrificar feriados e fins de semana, inclusive eu cheguei a visitar domicílios no Natal, tendo em vista que era a única oportunidade em que encontraria todos os informantes do domicílio para entrevistá-los, pesá-los e medi-los.
Outra situação constrangedoras ocorria durante as pesquisas (principalmente no interior), pois como pesquisa trata de despesas e rendimentos, tínhamos que perguntar a procedência bem como a aquisição de certos produtos e serviços, como preservativo ou lubrificante íntimo, anticoncepcional, despesas com motel, arma de fogo, etc. Muitos davam um sorriso amarelo e respondiam, mas mesmo explicando direitinho percebíamos que muitos mentiam em suas respostas.
A listagem era a parte mais exaustiva, uma vez que precisávamos visitar várias casas de um determinado setor (geralmente do tamanho de um bairro inteiro), para cadastrar cada domicílio num banco de dados a fim de que posteriormente fossem escolhidos dali, aleatoriamente e no Rio de Janeiro, os domicílios que participariam da POF. E para a Listagem necessitávamos identificar o tipo de domicílio e pegar o nome da pessoa de referência.
E era aí onde encontrávamos certa dificuldade. Muitas pessoas exitavam dar o nome, mesmo nos apresentando com o colete e crachá do IBGE, quando não simplesmente se recusavam a nos receber. E foi numa dessas que ao chegar no portão de uma casa, percebi certa movimentação pela janela, quando veio até mim um garotinho de uns 2 anos para me dizer que não tinha ninguém em casa, mas mesmo assim eu perguntei: - Hum, não tem ninguém em casa? Então vai chamar sua mãe! E o garoto retornou gritando: - Mããããe o homem que falar com a senhora! A mãe do garoto chegou até o portão com expressão de desconcertada a mal-humorada, porém não se recusou a dar seu nome.
Diferente de outra situação com um de meus colegas, em que depois dele explicar a indagação da informante sobre o porque dela ter que dizer o seu nome, a mesma resolveu não colaborar. Porém naquele momento sua vizinha impaciente chegara e disse: - Dá logo o nome pra ele “Maria” (acho que era esse o nome). Meu colega anotou, agradeceu e prosseguiu com os trabalhos.
Não posso deixar de falar de uma situação que me deu muita dor de cabeça (minha colega Lucilene que o diga). Sempre quando íamos para outro município nossos supervisores compravam as passagem de ônibus rodoviários de ida e volta em aberto com o Cartão Corporativo do Governo Federal, sendo que até então não tinha tido problema, mas em certa viagem a Guajará-Mirim, nos últimos dias da minha estadia por lá fui à rodoviária agendar meu regresso, porém tinha que chegar a capital o mais cedo possível, só que para isso teria que trocar o bilhete por uma mais barata, o que fiz, pois imaginei que o reembolso ao IBGE seria o suficiente, porém preferi ligar pra um colega pra falar o que fizera. Ele me aconselhou a pegar o bilhete recebido ainda na capital de volta, e foi o que tentei fazer, porém, como estava em aberto foi vendido a outra pessoa. Aí ferrô! Fiquei o tempo todo muito preocupado por causa da besteira que fiz, e tinha que comunicar imediatamente a Sr.ª Ângela do ocorrido, mas era sábado. Passei todo o fim de semana pensativo, só imaginando na bronca que iria levar, bem como, e principalmente, o que mais me atormentava era ter decepcionado a senhora Ângela, pois tinha grande respeito por ela e sua consideração era demasiadamente importante pra mim. Já na segunda-feira a comuniquei imediatamente, e ela determinou que eu pegasse uma declaração da passagem dizendo os valores e datas em que fora comprada a primeira passagem na capital, o que fiz. Chegando em Porto Velho ela não brigou comigo, mas me disseram que ela não havia recebido minha ligação de Guajará com muita tranqüilidade.
Na segunda fase de Listagens participei de algumas em Candeias e em muitos bairros de Porto Velho, sendo um deles no Teixeirão. Onde tive um setor todinho só pra mim. Entretanto foi um dos meus piores momentos, pois essa listagem acontecia simultaneamente com a execução da POF, o que me fez acumular o acompanhamento de dois domicílios meus, e mais dois de outra agente que viajou e eu fui escalado para encerrar. E como não há nada ruim que possa piorar, os meus domicílios ficavam na região central de Porto Velho, os outros dois na Zona Sul e o setor da listagem na Zona Leste. Foi uma maratona, mas deu tudo certo. Terminei as entrevistas e conclui a listagem dentro do prazo.
Gostei muito do meu tempo de APM, principalmente pelas pessoas muito especiais que conheci, mas também pelas minhas descobertas e pelas experiências e oportunidades que a POF me proporcionou. Mas também tivo momentos de raiva e decepção, e um deles era o modo como os Agentes de Pesquisas eram tratados por alguns servidores efetivos do IBGE, foram poucas mais ofensivas as manifestações em que nós, temporários, eramos menosprezados pelos servidores efetivos. O que pra mim era uma grande grosseria e ignorância, tendo em vista que são os agentes de pesquisa quem movimentam o IBGE, sem falar que todos concorreram em concurso público para estarem lá, sem falar ainda que os temporários tem grande importância para o IBGE, tanto que muitos agentes agentes de pesquisas têm mais conhecimentos e maior desempenho na execução das pesquisas do IBGE que muitos estatutários.
O IBGE deveria contratar servidores estatuários como regra, e não como exceção, isto é, deveria ser criado para a fundação os cargos efetivos de agentes de pesquisa, uma vez que o IBGE é um órgão de pesquisa, e sempre se faz necessário os serviços desses profissionais, porém o que ocorre é o gasto desnecessário de dinheiro público com a realização de concurso público para agentes temporários, o que chega a ser inviável pois muitos candidatos classificados e aprovados desistem de ingressar no quadro, e outros depois que entram logo logo saem para ocupar cargos melhores em outros órgãos públicos do município, estado ou União, além dessa rotatividade de funcionários temporários influenciarem significativamente na qualidade das pesquisas, isto é, um APM que já está dominando o conhecimento e a execução de determinada pesquisa em andamento (POF, PNAD, PENSE, SINAPI...), é convocado para outro cargo público (que geralmente é muito melhor que ser APM no IBGE) e deixa a fundação, que por sua vez vai convocar outro APM aprovado, o qual terá que treinar, e possivelmente até ter o mesmo domínio que o outro, a pesquisa já tenha acabado, prejudicando, e muito, a qualidade da pesquisa.
O presidente o IBGE esteve a Porto Velho pouco tempo depois que eu saí da fundação para ocupar um cargo estatutário estadual (em maio de 2009), e com certeza o ilustre presidente da fundação IBGE viu pessoalmente as condições lastimáveis do prédio que abriga a UE de Rondônia (possivelmente a mais horrível de todas as UE's do Brasil), porém parece-me que o presidente não se importou de saber que um prédio que carrega o nome da fundação que preside esta em tão péssimo estado, pois até hoje a UE de Rondônia continua do mesmo jeito feio de sempre.
Outro ocorrido repugnante foi o seguinte: uma empresa que administra um conhecido site de notícias se recusou a prestar informações ao IBGE, chegando a serem demasiadamente grosseiros com os agentes de pesquisa, quiça teriam infringido o art. 331 do CPB (desacato a servidor público no exercício da função). Diante do ocorrido os APM's retornaram à agência do IBGE e noticiaram o ocorrido ao supervisor (geralmente um servidor efetivo do IBGE, o que era o caso deste), que foi à empresa para explicar da necessidade e obrigatoriedade da prestação de informações ao IBGE (pelo menos era o de se esperar), entretanto infelizmente o que aconteceu no local foi nojento. O servidor efetivo não soube explicar defender os interesses do IBGE e descaradamente chegou inclusive a menosprezar os APM's que estavam com ele diante dos informantes, por causa da condição de temporários (e o que também me irritou foi os agentes de pesquisa terem ficado quietos diante da cena). Resumindo, o servidor que deveria representar e defender os interesses da fundação IBGE abaixou a cabeça e “colocou o rabo entre as pernas”.
É um absurdo saber que um servidor efetivo federal do IBGE desmoraliza os APM's (temporários) na frente de informantes. Além de idiotice isso é burrice, primeiro que ele e qualquer um não tem autoridade e direito para desmoralizar um funcionário temporário, segundo, essa postura só contribui para a crescente postura dos informantes em se recusar a prestar informações do IBGE, isto é, um servidor que age assim demostra também a falta de compromisso para como a entidade em que trabalha pois prejudica a execução da atividade fim da mesma.
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VÍDEOS
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POF 2008/09 mostra desigualdades e transformações no orçamento das famílias brasileiras
A família brasileira gasta, em média, R$ 2.626,31 por mês, e as do Sudeste gastam mais (R$ 3.135,80), quase o dobro das famílias do Nordeste (R$ 1.700,26) que têm a menor despesa. Desigualdade semelhante é encontrada entre a despesa média nas áreas urbana (R$ 2.853,13) e rural (R$1.397,29). Já o rendimento médio mensal do País alcançou R$ 2.763,47, a as desigualdades regionais permanecem: o menor rendimento (Nordeste, R$ 1.764,62) é quase a metade do mais alto (Sudeste, R$ 3.348,44).
Essas são algumas informações da primeira divulgação da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008/09, que visitou cerca de 60 mil domicílios urbanos e rurais, entre maio de 2008 e maio de 2009. Há dados sobre despesas, rendimentos (monetários ou não) e variação patrimonial, além da avaliação das famílias sobre as próprias condições de vida. São detalhados, ainda, os gastos com Habitação, Alimentação, Transporte, Saúde, Educação, Impostos, Contribuições trabalhistas, Pagamento de dívidas etc., segundo diferentes faixas de rendimento das famílias. Há comparações com a POF 2002/03 e o Estudo Nacional da Despesa Familiar (ENDEF) 1974/75
O peso dos principais grupos de consumo nas despesas familiares mudou bastante desde os anos de 1970.
A Alimentação, por exemplo, teve queda acentuada entre o ENDEF 1974/75 (33,9%) e a POF 2002/03 (20,8%), mantendo a redução até 2008/09 (19,8%). Na área rural, as participações da Alimentação tambémforam se reduzindo, respectivamente, de 53,2% para 34,1% e, depois, para 27,6%. Nos mesmos períodos, o peso da Habitação cresceu de 30,4% para 35,5% e, depois, para 35,9%. Sua evolução rural foi mais significativa: de 17,8% (ENDEF 1974/75) para 28,7% (POF 2002/03) e 30,6% (POF 2008/09).
Em seis anos, a participação urbana da alimentação fora do domicílio nos gastos com alimentação subiu de um quarto (25,7%) para um terço (33,1%), e a rural subiu de 13,1% para 17,5%.
No Brasil, a despesa média per capita dos 10% das famílias com os maiores rendimentos (R$ 2.844,56) era 9,6 vezes a dos 40 % com menores rendimentos (R$ 296,35). Essa disparidade constatada pela POF 2008/09 está menor que seis anos antes, quando era de 10,1 vezes. Ainda em relação a essas duas classes de rendimentos, a região mais desigual foi a Nordeste (11,3 vezes), e a menos desigual a Sul (6,9 vezes).
A pesquisa também constatou uma melhoria na relação entre as despesas e o rendimento das famílias. Em 2002/03, os 85,3% das famílias com os menores rendimentos tinham, em média, despesas superiores ao que recebiam mensalmente. Já em 2008/09, eram os 68,4% com os menores rendimentos que estavam nessa situação.
Era de quase 207% a diferença entre a despesa média mensal de famílias em que a pessoa de referência possuía menos de um ano de estudo, para aquelas com a pessoa de referência tendo 11 anos ou mais de estudo. Mas houve expressiva redução dessa disparidade: na POF 2002/03 ela era cerca de 400%.
A despesa de famílias com a pessoa de referência de cor branca estava 89% acima das despesas das famílias com pessoa de referência de cor preta, e 79% acima daquelas com pessoa de referência de cor parda. Nesses casos, em seis anos houve movimentos opostos: em relação à POF 2002/03, essas diferenças eram de 82% e de 84%, respectivamente.
Pela segunda vez, a POF investigou a percepção subjetiva da população sobre alguns aspectos da sua qualidade de vida. Em 2008/09, cerca de 75,2% das famílias declararam algum grau de dificuldade para chegar ao final do mês com o rendimento que recebiam. Em 2002-2003 esse percentual foi de 85,0%.
Mesmo na percepção subjetiva há desigualdades segundo as classes de rendimento: na classe com rendimentos até R$ 830, cerca de 88% indicaram algum grau de dificuldade; na classe com rendimento acima de R$10.375, somente 28% informaram ter algum grau de dificuldade. A seguir, as principais informações da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008/09.
Família brasileira gasta, em média, R$ 2.626,31 por mês
Segundo a POF 2008/ 2009, a família brasileira gastava, em média, R$ 2.626,31 por mês. As do Sudeste são as que gastam mais (R$ 3.135,80), perto do dobro do valor médio dos gastos mensais do Nordeste, onde as famílias gastam menos (R$ 1.700,00).
No Sul e no Sudeste, as famílias de menor rendimento mensal (até R$ 830) gastam em média mais do que recebem (R$ 929,75 e R$ 831,67, respectivamente).
Entre as unidades da federação, o Distrito Federal tinha a maior despesa média total, R$ 3.963,99, cerca de 50,9% acima da média nacional (R$ 2.626,31). Em seguida, vinham Santa Catarina (R$ 3.509,58) e Rio de Janeiro (R$ 3.386,78). Alagoas (R$ 1.223,94), Ceará (R$ 1.431,96) e Maranhão (R$ 1.466,96) tinham as menores despesas.
Além das desigualdades regionais, há também uma grande diferença entre a despesa média mensal familiar nas áreas urbanas (R$ 2.303,56 e 8,6% maior que a média), e a das rurais (R$ 1.220,14 e 46,8% inferior à média).
Em seis anos, melhora a relação entre despesas e rendimentos das famílias
A pesquisa também constatou uma melhoria na relação entre as despesas e o rendimento das famílias. Em 2002/03, os 85,3% das famílias com os menores rendimentos tinham, em média, despesas superiores ao que recebiam mensalmente. Já em 2008/09, eram os 68,4% com os menores rendimentos estavam nessa situação.
A tabela acima mostra as despesas e os rendimentos totais segundo vários grupos de rendimento, além da distribuição acumulada das famílias entre esses grupos. Até o grupo com rendimentos entre R$ 1.245 e R$ 2.490, as despesas médias totais superavam os rendimentos médios. Nos grupos seguintes, ocorria o inverso.
Gastos cotidianos são 92,1% das despesas; aumento de patrimônio, 5,8%
Em 2008/ 2009, as despesas correntes, que são os gastos cotidianos das famílias, representavam 92,1% da despesa total média mensal, ou o equivalente a R$ 2.419,77. A maior parte desse valor se referia às despesas de consumo - com alimentação, moradia, educação, transportes, entre outros -, que somavam em média R$ 2.134,77 (81,3% da despesa total). As outras despesas correntes (impostos, contribuições trabalhistas, pensões, mesadas, doações etc.) consumiam em média, por mês, R$ 285 (10,9% do total).
Com o aumento de ativos (compra de imóveis, construção e melhoramento de imóveis próprios e outros investimentos como títulos de capitalização, títulos de clube, aquisição de terrenos para jazigo, ou seja, o aumento do patrimônio familiar), as famílias gastavam em média, por mês, R$ 152,09 (ou 5,8% da despesa total). O valor gasto com diminuição do passivo (pagamento de dívidas) ficava numa média mensal de R$ 54,45 (2,1% do total).
O Sul tinha a maior participação do aumento de ativos no orçamento das famílias (8,3% frente à média de 5,8%).
Nas áreas rurais, trocas, pagamentos em bens e benefícios da casa própria são 20,8% do total das despesas
No que diz respeito à divisão das despesas em monetárias e não monetárias1 (84,8% e 15,2% do total na média do país), há uma diferença significativa na comparação urbano/ rural. Na área urbana, a despesa não monetária tinha participação média de 14,7%, enquanto na área rural representava 20,8% do total dos gastos familiares mensais.
A tabela abaixo resume as principais informações sobre a composição das despesas familiares.
Em 34 anos, percentual gasto com aumento de patrimônio cai a menos da metade
Entre 2002/03 e 2008/09, a POF mostra mudanças nas participações dos grandes grupos no total das despesas (tabela abaixo), assim como algumas reversões de comportamento. Em relação ao Endef 1974/ 1975 (Estudo Nacional da Despesa Familiar) as alterações muito expressivas também estão relacionadas ao longo intervalo de tempo decorrido (mais de 30 anos) e às muitas mudanças de hábitos das famílias no período.
Para o grande grupo das despesas correntes, entre 2002/03 e 2008/09 verifica-se redução de participação na estrutura de despesa total, de 93,3% para 92,1%. Em relação ao Endef, quando a participação era de 79,9%, deu-se o inverso: aumento de 12,2 pontos percentuais. Movimento parecido ocorreu com as despesas de consumo - 81,3% do total de gastos em 2008/09; 82,4% em 2002/03; e 74,6% em 1974/75. Para as outras despesas correntes (10,9%), entre as duas POFs houve estabilidade, e forte crescimento em relação a 1974/75 (5,3%).
O aumento do ativo tinha participação de 5,8% em 2008/09 e reverteu movimento anterior, crescendo em relação a 2002/03 (4,7%). Em relação ao Endef (16,5%), foi o grupo com a maior queda entre as despesas das famílias. Já a diminuição do passivo mostrou-se estável em relação a 2008/09 (2,1%) e 2002/03 (2,0%), mas reduziu-se em relação ao Endef (3,6%), houve redução em torno de 42%. Nos recortes urbano e rural, a situação se repete.
Consumo representa 81,3% das despesas das famílias
As despesas de consumo são o mais importante componente das despesas das famílias e representam 81,3% do total (ou R$ 2 134,77) nacional. O valor médio das despesas de consumo na área rural (R$ 1.220,14) correspondeu a 57,2% da média nacional e a 53% da urbana (R$ 2.303,56).
As despesas de alimentação, habitação e transporte corresponderam a 75,3% da despesa de consumo média mensal das famílias brasileiras, ou a 61,3% da despesa total. Na Alimentação (19,8%) a proporção rural (27,6%) superou a urbana (19%). Na Habitação (35,9%) deu-se o inverso: urbana (36,4%) e rural (30,6%).
Na tabela abaixo, comparações entre as despesas das famílias das classes de rendimentos de até R$ 830,00 e de R$ 10.375,00. Destacam-se as despesas com Assistência à Saúde: para classe até R$ 830,00, os remédios pesam 4,2%, ou 76,4% do dispêndio com saúde, contra 1,9% na classe oposta. Já a participação de plano/seguro de saúde foi de 2,4% na classe com os maiores rendimentos, contra 0,3% na classe oposta.
Em seis anos, as despesas médias com Alimentação e Transportes se igualaram
As participações dos grupos de consumo (inclusive urbano e rural) tiveram alterações expressivas na série histórica. A Alimentação, por exemplo, teve queda acentuada entre o ENDEF (33,9%) e a POF 2002/03 (20,8%) e prosseguiu em redução até 2008/09 (19,8%). A Habitação teve crescimentos significativos entre o ENDEF (30,4%) e a POF 2002/03 (35,5%), mantendo o aumento até 2008/09 (35,9%), sendo que evolução rural foi mais significativa, desde o ENDEF (17,8%) às POF 2002/03 (28,66%) e 2008/09 (30,6%).
Cresce a participação da alimentação fora de casa no orçamento das famílias
A POF 2008/09 revelou que as famílias estão gastando bem mais com alimentação fora de casa do que gastavam em 2002/03. O percentual das despesas com alimentação fora de casa, no total das despesas das famílias, cresceu de 24,1% para 31,1%, nesse período, ou seja, já representa quase um terço dos gastos com alimentos. Na área urbana, passou de 25,7% para 33,1%, e na área rural de 13,1% para 17,5%. Em reais, a despesa com alimentação na área urbana em 2008-2009 foi 145,5% maior que o da área rural.
A análise regional aponta que o maior percentual com alimentação fora do domicílio ocorreu na Região Sudeste (37,2%), enquanto os menores percentuais ocorreram nas Regiões Norte (21,4%) e Nordeste (23,5%).
Em valores, a despesa média mensal familiar com alimentação foi de R$ 421,72, sendo R$ R$ 290,39 gastos com alimentação no domicílio e R$ 131,33, na alimentação fora do domicílio. Nas famílias com rendimentos mais altos (acima de R$ 10.375,00), a proporção da despesa com alimentação fora do domicílio (49,3%) é praticamente igual à despesa com alimentação no domicílio (50,7%).
Famílias com maiores rendimentos gastam quase dez vezes mais que as famílias com renda menor
No Brasil, os 40 % de famílias com menores rendimentos possuíam despesa total per capita de R$ 296,35, e os 10% com maiores rendimentos, de R$ 2 844,56. No País a distância média da despesa per capita desses dois grupos foi de 9,6 vezes. Na área rural, a disparidade foi de 10,3 vezes. Em 2002-2003, a disparidade no País era de 10,1 vezes e, portanto, reduziu-se em 0,5 vez
Entre as regiões, a maior despesa média familiar per capita, tanto entre os 40% com menores rendimentos quanto entre os 10% com maiores rendimentos foi do Sul (R$ 406,00 e R$2.799,00, respectivamente) e a menor, no grupo com menores rendimentos, do Nordeste (R$233,00). Ainda no grupo com menores rendimentos, a despesa per capita do Sul era 74% maior que a do Nordeste.
Entre as famílias com maiores rendimentos, o Norte tinha a menor despesa média per capita (R$2.094,00) e o Sul, a maior (R$2.799,00). Nesse grupo, a despesa per capita do Sul era 33% maior que a do Norte.
A região mais desigual foi a Nordeste (distância de 11,3 vezes entre despesas médias per capita das duas classes de rendimento), enquanto a menos desigual foi a Sul (6,9 vezes). Entre as POF 2002/03 e 2008/09, essa desigualdade reduziu-se no Sul, Centro-Oeste e Nordeste, e ficou quase estável nas demais regiões.
Escolaridade também altera o padrão de consumo das famílias
Quanto mais anos de estudo tinha a pessoa de referência da família, maiores eram as despesas médias mensais. Para famílias em que a pessoa de referência possuía menos de um ano de estudo, a despesa média mensal foi de R$ 1.403,42. Nas famílias com pessoa de referência com 11 anos ou mais de estudo, esse total foi quase 207% maior (R$ 4 314,92). Em relação à POF 2002/03 houve expressiva redução dessa diferença, que era cerca de 400%.
A existência de pessoas com nível superior completo ou incompleto no interior da família, mesmo não sendo a pessoa de referência, produzia efeitos semelhantes: nas famílias em que não havia pessoa com nível superior completo ou incompleto, a despesa total média mensal era de R$ 1.659,99. Já naquelas com uma pessoa com nível superior completo ou incompleto, a despesa subia para R$ 4.296,05 (mais 160%); e nas famílias com mais de uma pessoa, subia para R$ 8.117,27 (390% maior que o primeiro extrato). Embora persistam, essas acentuadas diferenças estão menores, em relação a 2002/03 (190% e 430% respectivamente).
Na análise por cor ou raça, a diferença entre as despesas das famílias também era grande
A despesa de famílias com a pessoa de referência de cor branca estava 28% acima da média nacional, e 89% acima das despesas das famílias com a pessoa de referência de cor preta, além de 79% acima das famílias com pessoa de referência de cor parda. Em relação à POF 2002/03, as diferenças percentuais entre famílias com pessoa de referência branca e preta cresceram (de 82% para 89%). Já a diferença entre famílias com pessoa de referência branca e parda teve redução (de 84% para 79%).
As famílias com pessoas de referência do sexo masculino tinham despesa média mensal (R$ 2.800,16) em torno de 7% acima da média nacional (R$ 2.626,31) enquanto a despesa média das famílias com pessoa de referência do sexo feminino (R$ 2 237,14) era 15% menor. A diferença entre os dois estratos aumentou: era de 15% na POF 2002-2003 e foi para 20% na POF 2008-2009.
Famílias com altos rendimentos gastam com alimentos três vezes mais que a média nacional
As despesas com alimentação representam 16,1 % da despesa total e 19,8% das despesas de consumo das famílias brasileiras. Os resultados da POF 2008/09 para o grupo alimentação no domicílio confirmaram as desigualdades no perfil de consumo das famílias. O valor em reais dos gastos com alimentação das famílias com maiores rendimentos (R$ 1.198,14) é quase o triplo da média nacional e quase seis vezes o das famílias com menores rendimentos (R$ 207,15).
Famílias de todas as regiões gastam mais com carnes, vísceras e pescados
O grupo de alimentos carnes, vísceras e pescados lidera os gastos com alimentação, tanto na média do País (21,9%) quanto nas áreas urbana (21,3%) e rural (25,2%). A seguir, na área urbana, vêm Leites e derivados (11,9%), Panificados (11,0%) e Bebidas e infusões (10,0%). Na área rural, vêm Cereais, leguminosas e oleaginosas (13,1%), Leites e derivados (8,7%) e Aves e ovos (8,5%).
Entre 2002/03 e 2008/09, o percentual de gastos das famílias com carnes, vísceras e pescados cresceu de 18,3% para 21,9%, no total de gastos com alimentação no domicílio, enquanto o de leite e derivados caiu de 11,9% para 11,5%, bem como o de panificados, que passou de 10,9% para 10,4%. Caíram, também, os gastos com cereais, leguminosas e oleaginosas (10,4% para 8,0%); açúcares e derivados (5,9% para 4,6%) e aves e ovos (7,1% para 6,9%). Cresceram os gastos com frutas (4,2% para 4,6%) e bebidas e infusões (8,5% para 9,7%).
Rendimento médio mensal estava em R$ 2763,47
Segundo a POF, o rendimento total e a variação patrimonial das famílias brasileiras foi de R$ 2.763,47. O rendimento proveniente do trabalho era responsável pela maior parte desses valores (61% do rendimento total e R$ 1.688,00 da variação patrimonial). Do rendimento do trabalho, 70,7% pertenciam a recebimentos provenientes de empregados, fossem eles públicos, privados ou domésticos, e 20,2% dos que trabalhavam por conta própria.
Em relação a 2002/03, não ocorreram transformações significativas na composição do rendimento de trabalho familiar dos brasileiros – exceto quando consideramos a participação do rendimento dos empregadores, que foi reduzida em mais de dois pontos percentuais (de 11,7% em 2002/03 para 9,1% em 2008-2009) no período.
A segunda maior participação no rendimento médio familiar provinha das transferências2 (18,5%), com destaque para as aposentadorias e pensões governamentais. Em 2008/09, elas representaram mais de 80% das transferências, dos quais 55% foram provenientes do Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS). No outro extremo estavam os programas sociais federais, que representaram apenas cerca de 3% das transferências. Essas últimas são destaque dentre as transferências das famílias com rendimentos mais baixos.
O rendimento não-monetário detinha a terceira participação (12,8%) na composição registrada pela POF, sendo mais significativo entre as famílias com menor rendimento3. Para estas, correspondia a 25,8% do rendimento total médio. Já para as famílias com os rendimentos mais altos, representavam apenas 6,7%.
Os rendimentos de aluguel (de bens móveis e imóveis) e as outras rendas apresentaram as menores contribuições na composição do rendimento total e da variação patrimonial (1,7% e 1,6%, respectivamente).
Composição das transferências é diferenciada entre famílias com mais baixos e mais altos rendimentos
Cerca de 12,5 milhões de famílias brasileiras tinham recebimentos de até R$ 830. Para elas, o rendimento do trabalho era o principal componente (46,3%). As transferências vieram logo em seguida, com 26,7%. No que se refere às transferências recebidas, as aposentadorias e pensões do INSS (58%) e os programas sociais federais (23%) responderam pelas maiores parcelas. Ressalte-se que o rendimento não-monetário tinha quase a mesma participação (25,8%) que as transferências.
Em 2008/09, cerca de 4% das famílias brasileiras possuíam recebimentos superiores a R$ 10.375. Entre elas, a maior participação dos rendimentos também era proveniente do trabalho (60,5%), com o recebimento de transferências em segundo lugar (com destaque para as aposentadorias e pensões da previdência pública). Diferentemente das demais classes de rendimento, a variação patrimonial foi a terceira fonte de recursos (9,9%) mais importante para essas famílias, e não os rendimentos não-monetários.
Rendimento das famílias urbanas é duas vezes maior que o das rurais
O rendimento total somado á variação patrimonial das famílias urbanas (R$ 2.999,98) é praticamente duas vezes maior que o das famílias rurais (R$ 1.481,91). Na tabela abaixo, os detalhes do rendimento.
As famílias com recebimentos mensais de até R$ 830,00, urbanas ou rurais, tiveram como principais componentes o rendimento do trabalho, as transferências e o rendimento não-monetário. Nas áreas rurais, os programas sociais federais foram responsáveis por 33% das transferências. Nas áreas urbanas, por 20%.
Já para as famílias com recebimentos superiores a R$ 10.375, a variação patrimonial possuiu participações significativas tanto na área urbana (9,9%) quanto na rural (11,6%), ficando acima dos rendimentos não-monetários.
Famílias do Sudeste e Sul têm rendimentos acima da média
Os maiores rendimento total e variação patrimonial médio, na comparação entre as grandes regiões, ocorreram no Sudeste, seguido pelo Sul – as duas únicas regiões a terem registrado percentuais acima da média nacional (cerca de 21% e 10,3%, respectivamente). No entanto, apenas o Sul apresentou valores superiores à média brasileira em todas as categorias de origem de recebimentos. Por outro lado, a região com menores rendimento total e variação patrimonial foi o Nordeste (R$ 1.764, cerca de 63,5 % da média nacional), seguido pelo Norte (76% da média).
A participação dos rendimentos provenientes do trabalho foi maior que 60% em quatro das cinco regiões. A única exceção era o Nordeste (57,8%). Já a maior participação ocorreu no Centro-Oeste (66,4%) e no Norte (65,5%). As transferências, por sua vez, tiveram maior participação no rendimento das famílias nordestinas (22,5%), percentual acima do verificado nas áreas rurais (20,5%). Em termos da distribuição do rendimento não-monetário, Norte (16,6%) e Nordeste (15,5%) superaram o peso do componente na média nacional (14,6%).
Em relação a 2002/03, a POF 2008/09 revela alterações nas participações de dois componentes: transferências e rendimentos não-monetários. Nas cinco regiões houve aumento das proporções de transferências e diminuição da parcela não-monetária do rendimento, o que indica maior número de famílias incluídas no mercado monetário.
Melhora a percepção subjetiva das famílias sobre seus rendimentos a alimentação
A Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 investigou a percepção da população sobre alguns aspectos da qualidade de vida através de um questionário específico e com respostas subjetivas aplicado no último dia de entrevista em cada domicílio. As famílias indicaram um de seus membros para responder as perguntas subjetivas sobre a facilidade para chegar ao final do mês com os rendimentos familiares e a avaliação da suficiência e do tipo do alimento consumido. Esta foi a segunda vez em que o questionário subjetivo foi apresentado, a primeira foi na POF 2002/03.
Em 2008/09, 64,5% das famílias declararam ter alimentos em quantidade suficiente para chegar ao fim do mês, contra 53% em 2002/03. A POF também investigou se as famílias consumiam (sempre, nem sempre ou raramente) seu alimento preferido: em 2002/03, 73,2% declararam alguma insatisfação, contra 65% em 2008/09.
75% das famílias declararam algum grau dificuldade para chegar ao fim do mês com seus rendimentos. Na classe com rendimentos até R$ 830, cerca de 88% indicaram algum grau de dificuldade e 31,1%, muita dificuldade. Na classe com mais de R$ 10.375, 28% tinham algum grau de dificuldade e 2,6%, muita dificuldade.
As percepções da quantidade de alimentos são mais favoráveis que em 2002/03, mas as desigualdades regionais são marcantes. No Norte e Nordeste, cerca de 50% das famílias referiram insuficiência na quantidade de alimentos consumidos, contra cerca de 60% em 2002/03.
Para 64,8% das famílias do país e 74% das rurais, o tipo de alimento consumido nem sempre ou raramente era o preferido. Declararam sempre consumir alimentos do tipo preferido 27,7% das famílias do Norte, 25,7% do Nordeste, 44% do Sul, 37,9%, do Sudeste e 40,6% do Centro-Oeste. Maranhão e Piauí (21%) tinham os menores percentuais, e Santa Catarina (47%) o maior.
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1 Tudo o que é produzido, pescado, caçado, coletado ou recebido em bens (troca, doação, retirada do negócio e salário em bens). Inclui também o aluguel estimado pelo proprietário do domicílio. As valorações das despesas não monetárias foram realizadas pelos próprios informantes, considerando os preços no mercado local.
2 aposentadorias e pensões públicas e privadas, bolsas de estudos e programas sociais de transferência de renda.
3 A construção das classes levou em conta o rendimento monetário e não-monetário e a variação patrimonial.
Comunicação Social - IBGE
23 de junho de 2010