domingo, 15 de outubro de 2017

Casarão dos Ingleses em Porto Velho



Chegamos até o "Casarão dos Ingleses" através de uma pequena trilha atrás do Monumento ao Primeiro Centenário da Independência do Brasil (1822-1922) no povoado de Santo Antônio. Antes a trilha estava isolada, pois até então avisos diziam se tratar propriedade da Hidrelétrica de Santo Antônio.

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1959
Manoel Rodrigues Ferreira, em "A Ferrovia do Diabo", 4ª edição, pág. 130 transcreve parte do livro de Bernardo da Costa e Silva, intitulado "Viagens no Sertão do Amazonas", publicado na cidade do Porto, em Portugal, em 1891, onde se lê que o autor ao descrever o povoado de Santo Antônio nos fala do Casarão da seguinte maneira:

Mais adiante, havia outra grande casa num alto, que desfrutava toda a entrada do porto, e nela eram os escritórios principais da companhia no primeiro andar, e no segundo, residência.

 A Companhia a qual se refere Bernardo da Costa e Silva é a P. T. Collins, de propriedade dos irmãos Phillip e Thomas Collins (e não Paul e Tom Collins como quer um certo jornalista), cujos engenheiros chegaram a Santo Antônio no dia 19 de fevereiro de 1878, passaram a ser chefiados por Thomas Collins a partir de março, e partiram em 19 de agosto de 1879, vencidos pelas doenças e as péssimas condições de trabalho.

Neville B. Craig, engenheiro sobrevivente da P. T. Collins, publicou em 1907, o livro "Estrada de Ferro Madeira-Mamoré - História trágica de uma expedição", traduzido e publicado no Brasil pela Companhia Editora Nacional em 1947, onde se lê na página 198, a primeira notícia sobre a construção do Casarão, em 19 de março de 1878, logo após chegada de Thomas Collins:

Sobre um elevado outeiro de onde se avistava o rio com suas cachoeiras, para cima e para baixo, foram lançadas as fundações para o edifício central da administração da estrada. Ao contrário das outras, esta construção deveria ser de natureza permanente. Fora projetada para se destacar como o prédio mais evidente do lugar: dois andares circundados por varandas com 3 m de largura. O primeiro pavimento destinava-se exclusivamente a escritórios e o segundo seria dividido em cômodos  espaçosos e serviria de residência aos principais funcionários da estrada, em Santo Antônio.

Praticamente todos os escritores que passaram por Santo Antônio, depois da P. T. Collins, falaram do Casarão solidamente edificado em frente à cachoeira de Santo Antônio. Porém, vamos continuar com as informações de Neville Craig e a descrição que ele faz ao voltar de Jaci Paraná, na página 354 do seu livro:

Ao desembarcar em Santo Antônio, no dia 11 de outubro de 1878, vimos que a construção primitivamente usada para sede dos engenheiros fora abandonada. O novo prédio do escritório estava terminado e nele se instalaram os engenheiros, empreiteiros e empregados.

Conquanto destituído de qualquer ornamentação, o edifício era sólido, admiravelmente adaptado ao clima, muito bem localizado e consideravelmente superior a qualquer outro existente nas margens dos rios, acima do Pará.

Neville B. Craig segue descrevendo as particularidades do prédio, as quais deixamos de nomear por fazerem parte das primeiras citações, no entanto, o que nos chama a atenção é que o prédio é descrito com "de dois andares circundado por varandas de 3 m de largura" e o tempo recorde (19 de fevereiro a outubro de 1878) em que ele foi construído.

A importância da informação de Craig é nos levar à conclusão de que a edificação era retangular ou quadrada e, portanto, não possuía os acréscimos laterais que se observa hoje, e a ausência das varandas laterais nos dois pavimentos do prédio, restando apenas no lado da cachoeira, vestígios dessas varandas na parte inferior.

Considerando, portanto, a informação de quem participou indiretamente da construção do Casarão, no mês de outubro de 2008, o prédio em questão estará completando 130 anos de existência.

Assim, senhores funcionários de Furnas, acreditamos estar esclarecido que o Casarão foi construído pela P. T. Collins, em-presa americana e não pelos ingleses.

Consta dos estudos para construção das hidrelétricas que o casarão será "reconstruído" (construído uma réplica) em outro lu-gar, o que nos leva à conclusão de que o verbo "reconstruir" está empregado de maneira incorreta, na tentativa de enganar os su-postos incautos filhos desta terra.

Em sendo verdade esta "reconstrução nas proximidades do local atual", só nos resta dizer que qualquer imbecil sabe que não terá nenhum valor histórico. Sabe-se, também, que hoje existem técnicas que permitem mudar de local aquele prédio, sem prejuízo para as tradições históricas do nosso povo.

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